A Vez do Maluco Beleza

É provável que nunca se encerre a discussão sobre o que é ser maluco e o que é ser normal. Mesmo que a psicopatologia tenha definido os limites entre sanidade e insanidade, os parâmetros utilizados não são eternos nem imutáveis. Além disso, a loucura é objeto de interesse não só da ciência médica e psicológica, mas também da arte, da filosofia, da antropologia e da sociologia, o que torna o assunto ainda mais diverso.

raulseixasNa boca do povo, ser louco é um estado da mais absoluta subjetividade. Loucos são aqueles que não concordam conosco, ou que agem fora dos padrões que consideramos normais. São aqueles que fazem extravagâncias em nome de uma paixão, que conversam com seu animal de estimação, ou que colocam em perigo a vida dos outros no trânsito. Há quem diga que um pouco de loucura é necessária, eventualmente, pois existem momentos em que é preciso romper certos paradigmas no amor, no trabalho e na vida em sociedade.

Hoje faz 20 anos que morreu Raul Seixas. A letra de uma de suas canções mais famosas, Maluco Beleza, fala sobre esta mistura de normalidade e loucura, da lucidez com a maluquez, uma das marcas do comportamento do próprio artista. Raul chegou a inverter a lógica da sanidade: “a arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal”. Na música, há uma crítica ao sujeito normal, que sempre faz as mesmas coisas, da mesma maneira, num mundo caracterizado pelo que chamou de loucura real.

Ao mesmo tempo, há um elogio ao sujeito excêntrico, que rompe os padrões e as rotinas da normalidade, que se dá o direito de ser louco para seguir um caminho sem destino pré-determinado, onde têm vez a inovação, a criatividade e o deslumbramento, características muito valorizadas nos dias atuais. A loucura, quando não ultrapassa as fronteiras da psicopatologia, pode trazer sentimento de realização e contribuir em muito para os avanços da sociedade.